terça-feira, 22 de outubro de 2019

Capítulo VI - O Visitante

"Visitantes sempre dão prazer. Senão quando chegam, pelo menos quando partem"
(Provérbio Português) 

              No quarto, a única claridade que se via era a do livro que ainda brilhava na presença de nossa heroína, do corredor, ecoava um barulho que, apesar de não ser alto, fazia as pernas de nossa turma tremer, contudo, não era só o medo que tomara conta de nossos amigos, como já disse anteriormente, eles são jovens e movidos pela curiosidade, logo, não demorou muito a surgir, entre eles, a ideia de tentar ver quem ou o quê era o visitante indesejado que transitava pela casa.
                  - Precisamos saber quem está aí.
                  - Quem vai ver, Biel?
                  - Victória, acho que a sorte deve escolher quem vai olhar.
                  - E como faremos isso?
                  - Pode ser no dois ou um. Concordam?
                  Todos concordaram e após a disputa, Enzo foi o escolhido 
                  - Não sei o porquê topei o dois ou um, com o azar que tenho, era óbvio que me daria mal.
                  - Enzo, a sorte é igual para todos.
                  - Sim, Valentina, mas no azar eu estou sobrando.
                  - Calma, Enzo, estamos todos com você.
                  - Com certeza, Nix, mas acho que você é a adulta e tem um certo lado mágico, logo, não deveria nem aceitar o dois ou um, deveria ter se candidatado de imediato.
                  - Só achei justo que fosse na sorte como propôs o Gabriel.
                  - Óbvio que foi pela sentimento de justiça, que tolice a minha achar que tinha alguma relação com o medo.
                  - Sim, Enzo, também tive medo.
                  - Nossa, uma bruxa com medo, que coisa estranha.
                  - Gosto do seu senso de humor e do seu tom irônico, Enzo.
                  - Obrigado, professora, espero que isso me ajude na sua matéria, não que eu precise de nota, mas é bom ser precavido.
                  - Ei, vocês dois, parem com o falatório, tem algo de errado.
                  - Por que, valentina?
                  - Ouça, Biel, o barulho acabou, será que foi embora.
                  - Verdade, não estou mais ouvindo também.
                  - Acho que ele sentiu que seria eu a olhar e fugiu com medo.
                  - Sim, Enzo, não tenha dúvida, ele tremeu como nós trememos.
                  - Viu, só, Biel, comigo é assim, meto medo quando fico bravo. Vou abrir a porta.
                  Ao abrir a porta, nosso icônico personagem percebeu que estava equivocado, que na verdade, o visitante estava parado do outro lado do corredor olhando fixamente em direção ao quarto onde eles estavam, Enzo, sempre bom com as palavras, agora estava petrificado e mudo. Nosso amigo passava por um congelamento comum em situação de medo, pois, em momentos como esses, nosso corpo libera de forma intensa, como mecanismo de defesa, um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, chamado de adrenalina. Nesse momento, todos perceberam que havia algo de estranho com o Enzo, então, Nix o puxou e Valentina trancou a porta.
                  - Enzo, você está bem? Fala comigo!
                  - Balança ele, Nix.
                  - Estou tentando, Victória, mas seu irmão não se mexe.
                  - Deixa que eu tento!
                  Nesse momento, Valentina, balançou-o com uma força fora no normal para ela e deu um grito ensurdecedor, foi aí que nosso amigo saiu do transe em que estava, mas não só ele, porque o barulho do corredor voltara, entretanto, agora mais intenso.
                  - Vocês não sabem o que eu vi, ainda não acredito nos meus olhos.
                  - O que viu?
                  - Não sei direito, vou tentar descrever, porém não acredito que pertença a esse mundo.
                  - Como não pertence, Enzo, se aqui está.
                  - Não pertencendo, Victória.
                  - Façam silêncio um pouco. Vocês estão ouvindo?
                  - Estou ouvindo sim, Valentina. Parece uma flauta.
                  - Achei que era coisa da minha cabeça, Nix.
                   - Não, não é.
                  - Pessoal, vocês querem saber o que vi? ou querem ficar ouvindo a música?
              - Conta, Enzo, por favor!
              - Ok, Biel, então, prestem todos atenção, o que vi foi um animal, se é que posso chamá-lo assim, era, se o medo me permitiu ver direito, um homem nas expressões faceais, e no tórax, porém, tinha orelhas pontudas, seu nariz era chato, a parte inferior do seu corpo era todo coberta de pelo, seus cabelos eram bem longos, tinha duas mãos, entretanto não tinha pés, esses eram, na verdade, cascos, como de cavalo, boi ou carneiro.
                - Enzo, o que você viu, segundo alguns livros que li e confirmado também pelo som da flauta foi um ser que não deveria existir, pois você descreveu a forma física de um Sátiro.
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                  - Não sei se foi um Sátiro, um comediante, sei é que não era nada bonito.
                 - Você é engraçado, Enzo, era um Sátiro sim, seres inteligentes, contudo não muito confiáveis e afeitos a festas e vinho.
                 - Então, Nix, porque estamos aqui, se ele não vai nos machucar, tentemos um contato.
                 - Você tem razão, Gabriel, vamos tentar a aproximação.
                 - Tudo bem, mas eu não vou na frente.
                 - Ok, Enzo, eu vou.
                 - Obrigado,Valentina, como você é valente.
                 - Você é bobo mesmo, vamos!
                 Quando todos saíram do quarto, não havia mais ninguém na casa, isso gerou um certo incomodo a nossos amigos que agora não sabiam qual a relação entre o livro e o repentino aparecimento daquela personagem estranha, contudo, não se pode dizer que o visitante deixara saudade, entretanto deixou nossos amigos curiosos e com um pulga atrás da orelha.
                 De repente, nossa heroína, para e pergunta se seu grupo ouvia aquelas vozes, de imediato ouve de todos que não escutavam nada.
                 - Você está impressionada com o ocorrido e está ouvindo demais.
                  - Não estou, Gabriel, ouço uma conversa que vem da cozinha. Venham comigo até lá.
                  Todos foram juntos até a cozinha para saber o que ouvia a Valentina.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Capítulo V - Segredos

"DA DISCRIÇÃO

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também..."

(Mário Quintana)
              Todos saíram. A casa da professora Métis era próxima à escola, então, o grupo decidiu por chamar um Uber, pois seria o meio de transporte mais rápido e a ansiedade de nossa heroína agora contagiara a todos. Enzo que outrora desdenhava dos fatos e do desespero consumidor de sua prima, provava do sabor aniquilador da curiosidade, óbvio que esse comportamento estava condicionado a segurança gerada pela presença do irmão mais velho, Gabriel, e da irmã, Victória.             Gostaria de lembrá-los, amigos leitores, que todos vocês já foram adolescentes ou ainda o são e sabem muito bem que nessa fase da vida nosso cérebro ainda está em desenvolvimento e, não só, mais também por isso, temos tendência a tomar decisões ouvindo mais o nosso sistema límbico, pois é onde está o nosso "banco emocional",  do que atendendo ao nosso córtex pré-frontal que é a parte chata e racional, logo, o veredito de todos do grupo foi guiado pelo prazer da aventura. Deixo claro que aventura para eles, a nós pais representa sofrimento, desespero e angustia.             Valentina, por todo o percurso, continuava a reclamar da dor de cabeça que a afligira desde o dia anterior, consequência do seu contato com o livro ainda misterioso, porém, por vezes, a esquecia um pouco, porque ficava, ao conversar com os primos, criando deduções para todo o ocorrido. Por fim, chegaram ao lugar de destino, a casa da professora Métis onde estava Nix.              Desceram do carro às pressas e foram em direção à porta, Victória tocou a campainha, mas ninguém os atendeu, então, Enzo tocou de novo, mas agora manteve segura por um belo espaço de tempo. Foi aí que a porta foi aberta.                 - Boa tarde, meninos!                 Em coro, todos responderam:                 - Boa tarde, Nix! Podemos entrar?                 - Sim, entrem, afinal de contas, vieram para isso.                 - Não, não e não mesmo, viemos para saber de tudo, não me importo se for aqui fora.                 - Ah, Enzo, já começou, né!                 - Não, Biel, só quis ser claro, porque nunca vi uma porta com o desenho de uma mão com um olho no meio.                  Todos entraram, logo na sala, viram que era um espaço com poucos móveis, apenas uma poltrona antiga, uma escrivaninha e e livros espalhados, contudo as paredes tinham alguns desenhos que chamavam a atenção.               - Desculpe perguntar, mas a professora pertencia a alguma turma de grafiteiros?               - Não, Enzo, minha prima tem, assim como eu, um gosto particular por magia.               - Vocês são primas?!               - Sim, Valentina, sim.               - Por que não falou quando se apresentou?               -  Porque fui para tentar descobrir o quê aconteceu. Vejo que estão ansiosos, então, vou explicar tudo desde o começo.               - Por favor, Nix!               - Tudo começou quando ainda eramos adolescentes, eu e Métis não nos separávamos, eramos, não só prima, mas as melhores amigas, não gostávamos muito de sair nem de brincar na rua, nossa alegria era ficar lendo e conversando sobre os livros que líamos. Certo dia, Métis disse que precisava muito compartilhar comigo as informações que lera em uma obra nova. Quando cheguei a casa da minha tia, Métis estava como vocês, extremamente inquieta e ansiosa e falou que havia comprado, em um sebo, um livro muito estranho, mas que ela adorara, a obra era "Greek Magical Papyri".              - Meus Deus! Quem, em sã consciência,compra um livro chamado "Papiros Mágicos Gregos"?              - Não atrapalha, Enzo!              - Victória, só falei o que penso.              - Métis sentou comigo e, ao invés de falar, começamos a reler aquele livro do século II A.C que versava sobre feitiços, rituais e adivinhações. No começo, foi tudo muito divertido, aprendemos a fazer alguns feitiços e adivinhações, isso nos empolgou muito, nós nos enveredamos no campo de estudo da magia, conseguimos, com base na leitura, prever alguns futuros e isso nos estimulou ainda mais, por isso compramos mais alguns livros "The Black Pullet", "Ars Almadel",  "Picatrix", "Galdrabox". Na época, eu, diferente da Métis, que sempre foi prudente, não tinha mais limite de onde e como usar o que aprendia, fazia pegadinhas na escola, usava para saber quais eram as questões que cairiam nas provas, isso irritava minha prima e, aos poucos, fomos brigando e nos afastando.           - Agora entendi a frase "Quer conhecer alguém, dê poder a ela".           - Enzo, o que você faria?           - A mesma coisa, Biel, não sou muito fã de matemática e na minha sala tem uns moleques chatos, eu usaria muito bem essa magia, se a Nix quiser me deixar levar, só um pouco, os livros, prometo que depois devolvo.            - Meninos, quero ouvir a história.            - Vou continuar, Vitória.            - Por favor, Nix!             - Durante o ensino médio, estudamos em escolas diferentes e nos falávamos, às vezes, pelo telefone e aproveitávamos para trocar magias e informações sobre os livros. Aos poucos, adotei uma modelo de vida diferente, o preto como cor de vestimentas e o afastamento das relações sociais como comportamento, logo, todos me viam como estranha, mas nunca liguei para isso, sempre os achei comuns e chatos demais.             - Sinto-me assim muitas vezes.             - Entendo, Valentina. Mas para mim foi uma fase bem tranquila. Ao acabar a educação básica, como tinha uma paixão por leitura e adorava estudar línguas, assim como a Métis, fui fazer Letras. Na faculdade tudo ocorreu muito bem, mas em relação a minha prima, nosso contato reduziu, pois fui fazer intercâmbio, por isso, ela formou-se primeiro que eu. Há três anos ela já ministra aulas de Língua Portuguesa, Métis sempre foi genial em tudo o quê fez, eu, graças aos estudos no exterior, acabei há seis meses. Ao concluir meus estudos, comecei a trabalhar como professora de inglês. Mas, essa semana, na quinta-feira, recebi uma ligação às 3:15, era a Métis, a voz dela quase não saía, pedi que falasse, mas só resmungava, eu, já aflita, gritei ao telefone. Como que despertando de um transe, ela me disse que havia feito algo errado, que alguém estava na casa dela, que tinha conseguido um livro novo e que não sabia explicar, mas alguma coisa aconteceu e que ela estava sendo observada. Saí correndo de casa, peguei o primeiro ônibus, quando cheguei aqui, não a encontrei mais, mas vi a casa cheia desses símbolos, são todos de proteção.           - Não entendo vocês, se estava com pressa, porque veio de ônibus?          - Porque não uso muito o celular e,por isso , não sei usar tão bem, Enzo.          - Não sabe usar nada, porque era só chamar um Uber ou um 99. Coitada, esperou, pelo menos, duas horas.          - Sim, como demorei não a encontrei mais, só esses símbolos de proteção.          - Todos são de proteção? Até o da porta?          - Sim, Enzo, aquele é o Hamsa, aqui na sala, no chão, é o Pentagrama.          - Esse não é usado como magia negra?          - Não, Gabriel! O Pentagrama representa a terra, o fogo,  a água, o ar e o espírito.          - Nossa, sempre vi diferentes nos filmes.          - Sim, porque é um símbolo cerimonial, por isso é associado direto a todos os rituais, mas não é bem assim.          - Entendi, mas e os outros da sala.          - Como disse, são todos de proteção, nas paredes estão Cruz Solar  que evoca o poder do Sol e os guardiões das Quatro Direções; o Olho de Horus que simboliza o poder divino; a Tríquetra que representa a Santíssima Trindade e o Bindrune, um símbolo de proteção celta.          - Nossa, haja proteção! E ainda falam que eu sou medroso.          - Pois é, Enzo, mas mesmo assim ela sumiu e todos esses desenhos só confirmam que ela estava mesmo com muito medo.          - Notei, e olha que não foi difícil.          - Na casa, além dos símbolos, encontrei, sobre a cama, o livro de Thoth.         - Outro livro de magia?          - Sim, aquele que você tocou e caiu.          - Não cai, fui lançada por uma força estranha.          - Não entendo, estive com ele o tempo todo e nada me aconteceu.          - Onde ele está?          - No quarto, Gabriel.          - Queria vê-lo.          - Vamos todos.          - Tudo bem, Enzo, então, vamos até o quarto.           Quando todos se aproximavam do quarto, a dor de cabeça de nossa heroína voltara com muita intensidade, ela parara à porta e todos a olhavam preocupados, perceberam que uma luz brilhava lá dentro, ao abri-la, notaram que o livro emitida um brilho. Assustados, pararam todos, porém, Valentina decidiu avançar em direção a luminosidade, mas, quando aproximara-se, todas as luzes da casa piscaram, um vento gélido adentrara pelas janelas que, de repente, abriram-se, o silêncio tomou conta de todos. Nesse momento, um vulto passou pela porta, num sobressalto, Gabriel pediu que todos entrassem no quarto, pois havia algo na casa, trancaram-se com o livro e a sombra de alguém ou algo podia ser vista por baixo da porta. O medo tomara conta dos nossos amigos e o receio do que poderia acontecer deixava-os estáticos.         

domingo, 22 de setembro de 2019

Capítulo IV : A Formação do Grupo

"Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro."
(Leonardo da Vinci))

              Meus caros leitores, a curiosidade é, sem sobra de dúvida, aquilo que nos move enquanto seres humanos e, com certeza, foi ela quem nos levou a evolução, falo isso em relação ao pensamento e a tecnologia, mas, quando direciono tal comportamento às mulheres, não sei se tenho certeza, porém acredito que ele é potencializado de forma incrível, por isso quero dizer que nossa heroína teve uma noite irrequieta. Andou durante a noite e madrugada inteira com a cabeça a pensar em inúmeras perguntas que poderia ter feito e não as fez. Presumo, meus amigos leitores, que já tenham passado por isso, pois todos nós já entramos em querelas e falamos o quê nos veio  à cabeça, contudo, depois de apaziguada a controvérsia, pensamos em tudo aquilo que poderíamos ter falado e não falos, esse comportamento nos irrita e nos tira o sono, pois bem, era assim que se encontrava Valentina, porque uma conversa foi iniciada e não concluída, graças a minha entrada, e porque ainda tinha questões a serem esclarecidas. A noite parecia uma vida inteira, contudo, mesmo demorando a passar, a manhã do dia seguinte chegou.
             O relógio marcava seis horas da manhã, Valentina, que amava dormir,  já havia, àquela hora, enviado inúmeras mensagens para o whatsapp do Enzo querendo saber que horas ele chegaria, contudo, até ali não recebera nenhuma resposta, o que aumentava ainda mais sua ansiedade. Já cansada de esperar, decidiu por ligar para seu primo.
             - Bom dia, Enzo!
             - Valentina, que horas são?
             - São seis e quinze.
             - Logo você acordada às seis e quinze, no primeiro dia de férias!
             - Pois é!
             - Está bem?
             - Nem um pouco, não dormi a noite inteira.
             - Nossa, deve estar com o humor dos deuses.
             - Não estou mal humorada, estou com muitas ideias na cabeça, ansiosa e cansada.
             - Já eu estou com sono, muito sono.
             - Que horas seu pai vai trazer vocês?
             - Vamos sair em vinte minutos.
             - O que faz deitado ainda?
             - Valentina, dormi arrumado, preciso de cinco minutos para escovar os dentes , porque vou comendo no carro.
            - E a Victória?
            - Deve ter acordado às cinco da manhã para se arrumar. Por que?
            - Por nada, levanta e não sai do celular, preciso falar.
            - Jesus!!
            - Para de reclamar.
            - Vou fazer um grupo no whats, porque se eu não responder a Victória ou o Gabriel respondem.
            - O Biel vem com vocês?
            - Vai sim.
            - Ele não ia para casa da avó.
            - Sim, mas ele vai no próximo fim de semana.
            - Enzo, levanta, o pai está te chamando, só falta você.
            - Já vou, Victória.
            - Levanta, logo!
            - Já levantei, Biel. Valentina, vou nessa, chegamos em trinta minutos, afinal de contas é madrugada de sábado.
           - Você conversou com seus irmãos sobre ontem?
           - Eles sabem o quê meu pai falou, eu não disse nada.
           - Conversamos aqui, então, melhor falar tudo pessoalmente.
            - Tá bom, até daqui a pouco.
           No tempo cronológico, a viagem durou quarenta e cinco minutos, entretanto, para a Valentina, o tempo arratou-se como uma lesma sem pressa de chegar a lugar algum, contudo, mais uma vez, a casa fora agitada pelo soar da campainha, tenho uma teoria, amigo leitor, sobre a quebra do silêncio causado pela campainha, mas isso é assunto para um capítulo e deixarei para outro momento. Nossa querida adolescente, passou correndo pela sala e gritou:
             - Pai, deixa que eu atendo!
             - Tudo bem, deve ser seu tio.
             - Sim, são eles.
             - Oi, tio!
             - Oi, chorona! Cadê o chato do seu pai?
             - Está na cozinha, pode ir lá.
             - Já vocês, venham comigo.
             - Nossa, você está bem Valentina?
             - Não, Vi, mas vou contar tudo.
             A conversa transcorreu por mais de sete horas, nunca os vi por tanto tempo quietos sem um brigar com o outro, afinal de contas, são primos. Mas tudo aquilo viria por acabar com a visita já esperada.
             - Boa tarde, a senhora deve ser a professora?
             - Sim, prazer, Nix!
             - O prazer é meu, Naime.
             - Vim saber se a pequena está melhor.
             - Ela está bem sim, mas entre, por favor, vou chamá-la.
             - Valentina, sua professora!
             Como um furacão todos entram na sala, uns curiosos para ver aquela figura sinistra que ouviram falar durante as longas horas de conversa, outros curiosos e desesperados por informações.
             - Calma, meninos, olhem a educação!
             - Desculpa, Naime!
             - Tudo bem, Biel! Ainda bem que veio.
             - Obrigado!
             - Mãe, tem suco?
             - Vou fazer um soco pra vocês.
             - Obrigado, mãe!
             - Você está bem, Valentina?
              - Não, professora, não dormi à noite!
             - Aí meus Deus, de novo essa conversa.
             - Calma, Enzo!
             - Victória, eu já tinha ouvido uma primeira vez e fui obrigado a ouvir tudo de novo com vocês.
             - Você deitou e dormiu.
             -  Nossa, que irmã, eu não dormi, descansei as meninas?
             - Que meninas, menino?
             - As dos olhos, Biel.
             - Prô, tenho muitas perguntas?
             - Vamos devagar, faça-as, mas não sei se consigo responder.
             - De onde conhece a professora Métis? Que livro é aquele? Por que ficou no lugar dela? O que aconteceu quando toquei o livro?
             - Eita, desembestou a perguntar.
             - Preciso de respostas, Enzo.
             - Vou responder, mas fico feliz que já tenha montado uma equipe, precisaremos.
             - Como assim precisaremos, estou de férias.
             - Para, Enzo.
             - Para você, Valentina.
             - Prô, fala, estou angustiada, preciso muito saber.
             - Tudo bem, mas a história é longa e acho que aqui não é o melhor lugar.
             - Sim, já já minha mãe aparece e corta o assunto, precisamos combinar em algum lugar, mas hoje, não aguentarei mais uma noite sem dormir.
             - Pode ser na casa da Métis.
             - Prô, a senhora tem a chave?
             - Tenho sim, Enzo.
             - Mas, por que tem a chave da casa dela?
             - Conto lá, menino curioso!
             - Deus me livre, nem te conheço! 
             - Menino!!!
             - Verdade, Biel, ela roubou as aulas e a casa, estranho, não?
             - Tudo até agora é estranho.
             - Sim, Biel, por isso acho a ideia ruim.
             - Tenho que concordar com ele.
             - Vi, confie em mim, eu cuido, como sempre, de vocês.
             - Tá bom, Biel.
             - Um protetor, excelente.
             - Cheguei com bolo e suco, pessoal!
             - Obrigada, só queria saber como a pequena estava, como vi que está bem, já vou.
             - Tudo bem!
              - Mãe, vou acompanhá-la até à porta.
             - Tudo bem, Valentina.
             - Já eu, vou comer.
             - Também vou, Enzo.
             - Então, Vamos Bi!
             Depois de comerem e de se organizarem, afinal de contas agora estava formada a equipe para descobrir o que aconteceu, os meninos saíram e direcionaram para casa da Métis, pois há muitas questões a serem respondidas.
               
            
            


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Capítulo III - Novas amizades

"Quem cedo e bem aprende, tarde ou nunca esquece. Quem negligencia as manifestações de amizade, acaba por perder esse sentimento."
(William Shakespeare)
              Na sala, reunidos, a conversa não transcorria com naturalidade, a professora buscava, com uma simpatia forçosa, informações sobre como Valentina estava ou se se sentia diferente. As perguntas inquietavam nossa heroína, pois respondia, incansavelmente, aquele questionamento que já fora feito, durante aquele colóquio, inúmeras vezes. Então, na tentativa de dar mais harmonia a conversa, decidir por trazer um aperitivo, afinal de contas, comer sempre alegra as pessoas.                 - Vou trazer algo para comermos.                 - Não precisa, senhor, logo irei.                 - Eu estou morrendo de fome.                 - Nossa, Enzo, você só pensa em comida.                 - Lógico, Valentina, preciso manter minha beleza e busco as vitaminas para ser lindo no que como.                 - É, você com fome ninguém merece!                 - Então, vou lá e já retorno.                 - Tá bom, pai.                Ao retirar-me da sala, a professora teve um brio de alegria, logo, era eu o fato de a conversa não fluir, então, Nix direcionou-se para Valentina e agora já desinibida falou:                 - Mocinha, sei que algo aconteceu, mas não sei explicar e você precisa me contar.                 - Professora, como a senhora muda rápido de humor.                 - É de dar medo.                 - Enzo, você tem medo de tudo.                 - Mas isso não é normal.                 - Ele tem medo de tudo? Foi por isso que correu de mim?                 - Não, sai porque precisava cuidar da minha prima.                - Para de ser mentiroso, correu com medo sim.                - Não se pode querer ajudar que é mal interpretado.                - Desculpe, mas tive a impressão de medo mesmo.                - Não foi impressão, foi medo mesmo.                - Tudo bem, tive um pouco de receio, isso é normal.                - Ser medroso como você não é normal!                - Normal é falar com barata.                - Como assim falar com barata?                - Eita, falei demais!                - Como sempre, bocão.                - Vocês precisam ser sinceros comigo.                - Difícil, você não tem uma aparência confiável.               - Enzo!               - Pronto, falei.              - Por que não sou uma pessoal confiável?              - Professora, sua aparência é de dar receio, ouviram bem, né, receio.              - Não entendi.              - Veja, a senhora tem, desculpe a comparação, a pele mais branca que um palmito e os cabelos mais negros que "as asas da graúna".              - Enzo do céu, você consegue usar palmito e Iracema no mesmo texto.              - Pois é, literatura corre nas minhas veias, tenho um dom único.              - Não entendo como minha aparência pode gerar desconfiança.              - Senhora Nix, o Enzo só está falando besteira hoje, desconsidera, por favor.              - Mas tenho certa razão, é um esteriótipo daquelas bruxas da Idade Média.              - Menos, menino, para com isso, está deixando a professora sem graça.              - Bem que você concordou comigo quando falei a primeira vez.             - Mas agora nos conhecendo melhor, acho que fui precipitada.             - Fico feliz, pois tentei falar com seu primo para tentar estabelecer um laço de amizade e ele saiu correndo do nada.             - Ele é assim mesmo, a senhora precisa ver o quê aguento.             - Vocês sabem que estou aqui, né?             - Sim, sabemos.             - Pois não parece, fica a dica.             - Mas professora, o motivo de a senhora não nos passar segurança, no primeiro momento, foi porque veio à escola substituir a melhor professora de todas, então fiquei chateada.              - Aí, ela viu seu livro estranho e concordando comigo que a senhora tinha uma aparência suspeita, decidiu pegá -lo.                - Então, o livro não é meu, meninos.                - De quem é, professora?                - Então, o livro é da Métis.                - Eita, não entendi nada e você Valentina?                - Também não.                - Como somos amigos, vou contar, meninos, mas é algo muito estranho.                - Tudo com vocês é estranho, posso me retirar?                - Você não está curioso, Enzo?                - Estou, mas olha onde sua curiosidade nos trouxe, vou me privar de mais problemas.                - É sério isso?                - É, vai que piora.                - Meninos, acho que poderão me ajudar.               - Conta, Nix, e você senta aí Enzo!               - Então, vamos lá.               - Nossa, estou muito curiosa.               - Era ontem, as 22 horas, meu telefone tocou, era a Métis.               Nesse momento, voltei a sala com os aperitivos e sucos, mas aquela conversa intensa que da cozinha eu ouvia como murmúrios indecifráveis, agora dera lugar a um silêncio comparado à Câmara de Ecos no laboratório de Orfield em Minneapolis.                 - Voltei, pessoal!                 - Senhor, agradeço a gentileza, mas tenho que ir, já está tarde.                 - Não acredito, nem provará dos meus aperitivos.                 `- É, Nix, fique mais um pouco.                  - Tenho que ir, Valentina, mas retornarei para saber como está.                  - Ufa, não ouvi a conversa.                  - Que conversa?                  - Nenhuma, pai.                  - Licença, retorno amanhã para vê se melhorou.                  - Já que não quer provar do aperitivos, professora, vou acompanhá-la à porta.                  - Obrigado pela cordialidade e gentileza de vocês.                  - Tchau, Nix, até amanhã.                  - Até amanhã, meninos.                 - Até, professora.                 Nos direcionamos à porta, enquanto isso, Enzo devorava os queijos, salame e tomava todo o suco.                 - Divide, Enzo!                 - Pode comer, amiguinha da Nix.                 - Gostei dela.                 - Gostei foi da conversa não ter continuado.                 - Mas trate de vir amanhã cedo, não sabemos que horas ela virá.                 - Não sei se meu pai vai querer me trazer.                 - Pode deixar que eu peço ao tio Victor.                 - Meninos, não gostei dessa professora, veio toda estranha, falava pouco e rejeitou meu petisco.                 - Tio, salame, queijo e suco não são algo coisas extraordinárias.                 - Mas bem que você está acabando com tudo.                 - Pai, a professora é legal , mas acho que ela é vegana e não quis ofender.                  - Eu achei foi bom, porque assim sobra mais.                  - Se vier amanhã, não faço nada.                  - Tá bom, pai.                  - Tio, meu pai disse que horas viria.                 - Não, manda uma mensagem para ele.                 - Minha internet não funciona aqui, tio.                 - Tá bom, mando do meu celular.                  Tocaram a campainha e novamente a ansiedade tomou conta da nossa pequena.                  - Será que a professora esqueceu alguma coisa?                  - Veio comer, óbvio.                  - Enzo, você é engraçado.                  Fui à porta e deparei-me com meu irmão com aquela cara sisuda à minha frente.                 - Cadê o Enzo?                 - Boa tarde! Mal educado!                 - Boa tarde!                 - Tá frio e você vem com boa tarde.                - Chato como sempre.                - Estou com pressa, Ju, a Cinthya está esperando buscá-la no metrô .                - Vou nessa, Valentina, amanhã nos falamos.                - Tio, traz o Enzo amanhã de novo.                - Trago, sim, ele e a Victória, vou deixá -los uns dias aqui durante as férias.                 - Traz o Biel também.                - O Biel vai estar na casa da avó.                - Está bom, então, até amanhã.                - Até amanhã.